sábado, 25 de janeiro de 2014

Ventozelo

Tal como previsto na semana passada, hoje foi dia de visita a Ventozelo, onde esquadrinhámos a localidade de alto a baixo. O topónimo significa qualquer coisa como "pequeno lugar ventoso" e o dia fez jus ao nome. Isso não obstou a que passássemos uma bela tarde.
Começámos pela capela do Senhor da Boa Morte, que alberga os famigerados "fariseus". Fiquei fascinado com o que vi. Este templo é uma verdadeira jóia da arquitectura religiosa. No concelho, não conheço nada que se lhe iguale. E dificilmente existirá coisa semelhante em toda a região.
 Imagem exterior do templo que, a crer na data inscrita numa das pedras, terá sido erigido no séc. XIX.
Pormenor de um dos "fariseus".

 Aspecto de uma das galerias dos fariseus.
O fariseu da corneta que, segundo reza a lenda popular, em dias de muito vento toca. Contudo, os nossos guias afiançaram-nos que tal não passa mesmo de uma lenda, com a qual se atemorizavam os mais novos.

 Vista geral das pinturas do tecto da capela.
Pormenor do tecto da cúpula por cima do altar-mor da capela.

Segundo o padre Manoel de Sequeira, que era o cura responsável pela paróquia de Ventozelo no ano de 1758, o "Senhor Santo Christo da Boa Morte" tinha confraria criada por Bula Pontifícia, com cerca de 2.000 confrades de lugares vizinhos. "E em cada hum destes dias de jubileu (que são cinco dias e nam coatro) comumgam quando menos quatrocentas pessoas e quando mais seiscentas, para cujas confissões me hé necessário ter na véspera e dia de cada hum destes jubileus cinco, seis e mais confessores para que as ovelhinhas de Christo se nam vão desconsoladas sem o remédio de suas almas e estes confessores sustentados à minha conta pois no lugar nam há quem por este trabalho lhe ofereça nem hum pucaro de agoa." (in Memórias Paroquiais de 1758)
Deduz-se das castiças palavras do sacerdote que a confraria e o culto do Senhor da Boa Morte são anteriores a 1758, mas a capela é posterior, pois dela não nos dá conta no seu relato.
 Aspecto exterior da igreja paroquial.
Pormenor da cachorrada, que sendo originariamente exterior, se encontra no interior.

Dali, fomos até à igreja paroquial que é de construção muito antiga, mas que se encontra muito adulterada por acrescentos e remendos que foi sofrendo ao longo da sua existência. A cachorrada, por exemplo, já se encontra parcialmente no interior, devido a um aumento arquitectónico do templo. A restante foi destruída, ou encontra-se à guarda de particulares.
A formosa e antiga "Fonte da Vila", que se encontra na borda de um dos caminhos de Santiago (santo esse que está representado no tecto da capela). Reza a lenda que os peregrinos mergulhavam os pés nesta fonte e que as suas chagas curavam milagrosamente. Esta fonte de mergulho é um bonito monumento e, na minha opinião, a mais imponente do concelho (sendo também, provavelmente, a maior).
 Curiosa pia,escavada numa saliência rochosa, de que não se conhece uso ou utilidade (na foto: ti Afonso Gonçalves e Pimenta de Castro).
 Não menos curiosa pedra. Seria interessante aprofundar a sua origem, pois pode ter sido um monumento funerário, do género menir, ou uma invocação fálica. A única coisa que nos explicaram é que estaria a servir de pilar numa qualquer construção. O seu aparecimento neste local também tem história, mas essa fica para os protagonistas.
Pormenor floral por baixo de uma janela do séc. XIX.
Fotos: Antero Neto.
Fica aqui o agradecimento à zeladora da capela por nos ter franqueado a porta, bem como a ti Afonso Gonçalves pela disponibilidade para nos guiar nesta nossa visita. E, no final da volta, ainda nos obsequiou com um excelente tinto de colheita própria, a acompanhar bom pão, melhor presunto, saboroso queijo curado de ovelha e suculenta linguiça (tudo produtos caseiros e grandes amigos do meu colesterol).