domingo, 11 de setembro de 2016

A feira do Azinhoso e as lendas das moiras encantadas

Apesar de não ter podido presenciar toda a Feira do Azinhoso, ainda fui a tempo de assistir ao espectáculo de marionetas. Diga-se, em abono da verdade, que valeu a pena. A peça "Bizzzoira Moira" esteve muito bem apresentada e a história foi encantadora. Reproduziu uma lenda da zona de Gondomar, que tem correspondência nesta área geográfica (vide, por exemplo, o caso de Vilarinho dos Galegos, que pode ser consultado no meu último trabalho, nas "Memórias...", do Abade de Baçal, ou em "As terras de Entre Sabor e Douro", J. M. Martins Pereira). Aliás, a propósito disto, permito-me aqui duas observações críticas ao discurso final da intérprete da peça:
1. Já existem muitas recolhas feitas sobre este género de lendas. Basta consultar a excepcional obra de Alexandre Perafita, ou o referido trabalho do Abade de Baçal, ou, ainda, o livro de José Manuel Martins Pereira (ou, em alternativa, sempre se pode visitar o site do "Arquivo Português de Lendas"). Daí, que não faça grande sentido vir apelar à colecta de lendas deste tipo na nossa região, pois ela está feita, e muito bem, pelos autores citados.
2. Estas lendas, ao contrário do que ali foi afirmado, não possuem raiz árabe. Isso é uma falácia, que denota pouca investigação. Como demoradamente já expliquei nas minhas obras, neste contexto específico, o termo "mouro" não tem qualquer filiação no universo árabe. Basta reflectir um pouco (para além das muitas explicações paralelas, que aqui me eximo de expor, para evitar cansaço ao leitor, mas que podem ser consultadas nos meus escritos já publicados): como é que estas lendas das "moiras encantadas" surgem no Norte do país (e no Norte de Espanha), que escapou praticamente ileso à ocupação dos seguidores de Maomé, e são quase inexistentes no Sul, onde eles enraizaram a sua cultura durante muito mais tempo?
De qualquer das formas, e não obstante a alocução derradeira, que, pelas razões expostas, era desnecessária, parabéns pela magnífica peça!