segunda-feira, 3 de julho de 2017

Trindade Coelho, Távoras e Marquês de Pombal


Em 7 de Maio de 1882, com apenas 21 anos de idade, o então jovem estudante da Universidade de Coimbra, com a verve inflamada, proferiu notável discurso no Teatro Académico de Coimbra. Trindade Coelho, o mais insigne dos homens de letras oriundo do nosso concelho, insurgia-se então contra aquilo que entendia ser uma cabala dos jornais contra a sua terra. E isto porquê? Porque no ano em que se comemorava o centenário da morte do Marquês de Pombal, a imprensa acusava a população mogadourense de ser retrógrada, pois, alegadamente, tinha sido queimada uma efígie de Sebastião José de Carvalho e Melo, devido ao culto prestado à memória da família Távora.
Ao contrário do que hoje sucede entre nós, Trindade Coelho era manifestamente contra os Távora. Entendia ele que a sua memória perpetuava um modo de ser e de pensar feudal. Falar dos Távora era o mesmo que regredir na cronologia histórica, transportando-nos para um universo de um injusto domínio dos poderosos sobre a sociedade.

Mas, vejamos algumas passagens do seu discurso:

"Meus senhores, gira-me nas veias o sangue de transmontano, a minha consciência não tem a flexibilidade do vime, e no meu temperamento há alguma coisa de rude como as montanhas que acidentam o solo da minha província." (...)
"Há dois meses aproximadamente que a imprensa reaccionária, no miserável desempenho da sua missão anticivilizadora, fez propalar que em Mogadouro, na minha terra natal, se comemoraria o centenário de Pombal queimando o seu busto em frente da Igreja da Misericórdia, em plena praça pública.
À vileza sórdida da roupeta nada escapa, e por isso ela viu em Mogadouro uma terra em condições excepcionais; os Távoras haviam lá  vivido nos seus solares feudais, eles haviam dominado com o seu poderio de senhores  aquelas aldeias em roda." (...)
"Miseráveis, o opróbrio que quereis lançar sobre a minha terra natal caia sobre vós, terrível, inexorável, como terrível e inexorável é o anátema da indignação das nossas almas juvenis, douradas pelo sol brilhante da civilização acalentadas ao calor desta adoração que professamos pelos apóstolos do Progresso." (...)

Este sim, era dos de certo! Não necessitava dos favores de aviões fretados com jornalistas, nem da fina flor do entulho local a prestar-lhe falsa vassalagem...